Sentido íntimo de<br><i>nova evangelização</i>
Ao longo do seu papado, João Paulo II preocupou-se em atingir três objectivos centrais. Por um lado, o de promover o reforço das posições da hierarquia religiosa nas relações Igreja/Estado. Por outro lado, o de reforçar o movimento de aproximação e enlace da sociedade civil com as instituições canónicas, criando espaços vazios para o desenvolvimento da chamada «diplomacia paralela». Num terceiro tempo, o de apaziguar ou disciplinar o desassossego do clero católico preocupado com a questão metafísica das suas relações com a sociedade. Para atingir os seus fins, o papa diversificou os métodos de acção. Nas relações entre a Igreja e os Estados laicos, privilegiou os contactos diplomáticos tripolares – Cúria/Estados laicos/Igrejas Nacionais. Abriu canais de acesso entre as várias formações da «sociedade civil», lançando as bases de uma comunidade futura essencialmente confessional. Quanto ao clero católico, o papa declarou secamente, já em 1980: «Não é o mundo que fixa o vosso papel na sociedade mas sim, a Igreja.»
O papa anterior, João Paulo II, foi chefe importante da Igreja Católica que optou pela escola de Escrivá de Balaguer: «o caminho faz-se caminhando». Durante o seu mandato realizou dezenas de viagens pastorais. O seu princípio de «evangelização itinerante», pouco habitual noutros papados, causou alguma estranheza na opinião pública. Tinha, afinal, uma explicação muito simples. Nas suas deslocações, o papa fazia-se acompanhar por equipas altamente cotada de especialistas nas mais diferentes matérias que aconselhavam na área das suas competências. E, enquanto João Paulo II tratava com os grandes senhores e aparecia às multidões, os tecnocratas do Vaticano talhavam as situações mais convenientes ao desenvolvimento dos projectos em que trabalhavam. Podiam abrir atalhos através do exercício das diplomacias paralelas; ou conquistar novos apoios e alianças em cada itinerário do papa: talvez na política, talvez nas finanças, talvez no apaziguamento e prevenção das tensões clericais. Certamente na zona-tampão onde se forma a malha meúda das organizações sociocaritativas, base da sociedade civil. Por detrás do vulto de João Paulo II surgia, invariavelmente, a pessoa do cardeal Ratzinger, agora Papa Bento XVI e, então, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
Os caminhos da Eternidade
Tudo isto vem a propósito da falsa ideia, partilhada por alguns, de que a Igreja Católica pode mudar e está, realmente, a efectuar essas mudanças. Basta lerem-se notícias recentes para se concluir que as políticas de Bento XVI são as mesmas que as de João Paulo II que Ratzinger, aliás, inspirou.
Na República Socialista de Cuba, a doença de Fidel implicou a mudança de Chefe de Estado. O povo cubano permaneceu firme e confiante no seu governo. Dias depois, rompendo com muros de silêncio pesado, já estava em Havana um representante de Bento XVI. Que foi ele lá fazer ? As notícias escasseiam mas sabe-se que o cardeal não levantou a voz para condenar o bloqueio económico ou os pavores de Guantámano. Mas alguma razão há-de ter movido Bento XVI a enviar a Cuba, nesta ocasião de transição de nomes, um representante seu. Mas a linha estratégica mantém-se.
Em Portugal, entretanto, foram perguntar a um grupo de personalidades da Igreja que pensavam elas do panorama católico nacional. As respostas foram devastadoras: em 2006, ano da última contagem, a igreja nacional perdeu 7230 padres; há crise de vocações, perda de fiéis, diminuição de casamentos religiosos e de baptizados. Que fazer? - pergunta o padre Carreira das Neves, um dos inquiridos, teólogo e professor da Católica. E a resposta foi esta: «Penso que a Igreja deve fazer um exame sério de consciência para se reencontrar a si mesma com novas formas de vida e de ministérios.» Já Ratzinger tinha dito outro tanto, em Novembro de 2007, quando os bispos portugueses foram a Roma visitá-lo: «É preciso mudar o estilo de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros.» Sentença que teria de ser esclarecida porque pode ser entendida em vários sentidos. Mas os papas são assim. Tal como as pitonisas de outras eras.
Tem igualmente interesse informativo recordar o que foi recentemente declarado por outro português que é homem forte na Cúria Romana, o cardeal Saraiva Martins, a respeito da desqualificação em curso do clero nacional: «Os leigos portugueses têm um papel importantíssimo na Igreja. Quase mais do que se fossem padres ou freiras!».
O papa anterior, João Paulo II, foi chefe importante da Igreja Católica que optou pela escola de Escrivá de Balaguer: «o caminho faz-se caminhando». Durante o seu mandato realizou dezenas de viagens pastorais. O seu princípio de «evangelização itinerante», pouco habitual noutros papados, causou alguma estranheza na opinião pública. Tinha, afinal, uma explicação muito simples. Nas suas deslocações, o papa fazia-se acompanhar por equipas altamente cotada de especialistas nas mais diferentes matérias que aconselhavam na área das suas competências. E, enquanto João Paulo II tratava com os grandes senhores e aparecia às multidões, os tecnocratas do Vaticano talhavam as situações mais convenientes ao desenvolvimento dos projectos em que trabalhavam. Podiam abrir atalhos através do exercício das diplomacias paralelas; ou conquistar novos apoios e alianças em cada itinerário do papa: talvez na política, talvez nas finanças, talvez no apaziguamento e prevenção das tensões clericais. Certamente na zona-tampão onde se forma a malha meúda das organizações sociocaritativas, base da sociedade civil. Por detrás do vulto de João Paulo II surgia, invariavelmente, a pessoa do cardeal Ratzinger, agora Papa Bento XVI e, então, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
Os caminhos da Eternidade
Tudo isto vem a propósito da falsa ideia, partilhada por alguns, de que a Igreja Católica pode mudar e está, realmente, a efectuar essas mudanças. Basta lerem-se notícias recentes para se concluir que as políticas de Bento XVI são as mesmas que as de João Paulo II que Ratzinger, aliás, inspirou.
Na República Socialista de Cuba, a doença de Fidel implicou a mudança de Chefe de Estado. O povo cubano permaneceu firme e confiante no seu governo. Dias depois, rompendo com muros de silêncio pesado, já estava em Havana um representante de Bento XVI. Que foi ele lá fazer ? As notícias escasseiam mas sabe-se que o cardeal não levantou a voz para condenar o bloqueio económico ou os pavores de Guantámano. Mas alguma razão há-de ter movido Bento XVI a enviar a Cuba, nesta ocasião de transição de nomes, um representante seu. Mas a linha estratégica mantém-se.
Em Portugal, entretanto, foram perguntar a um grupo de personalidades da Igreja que pensavam elas do panorama católico nacional. As respostas foram devastadoras: em 2006, ano da última contagem, a igreja nacional perdeu 7230 padres; há crise de vocações, perda de fiéis, diminuição de casamentos religiosos e de baptizados. Que fazer? - pergunta o padre Carreira das Neves, um dos inquiridos, teólogo e professor da Católica. E a resposta foi esta: «Penso que a Igreja deve fazer um exame sério de consciência para se reencontrar a si mesma com novas formas de vida e de ministérios.» Já Ratzinger tinha dito outro tanto, em Novembro de 2007, quando os bispos portugueses foram a Roma visitá-lo: «É preciso mudar o estilo de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros.» Sentença que teria de ser esclarecida porque pode ser entendida em vários sentidos. Mas os papas são assim. Tal como as pitonisas de outras eras.
Tem igualmente interesse informativo recordar o que foi recentemente declarado por outro português que é homem forte na Cúria Romana, o cardeal Saraiva Martins, a respeito da desqualificação em curso do clero nacional: «Os leigos portugueses têm um papel importantíssimo na Igreja. Quase mais do que se fossem padres ou freiras!».